mardi 13 janvier 2015

Os erros da imprensa brasileira na cobertura dos atentados a Charlie Hedbo

« Je ne suis pas d’accord avec ce que vous dites, mais je me battrai jusqu’au bout pour que vous puissiez le dire »
Pseudo citação atribuída a Voltaire

Por Felipe T Toniato

Quase uma semana depois dos atentados à Charile Hebdo em Paris, muita tinta correu para tentar justificar os atos hediondos perpetrados. Vivendo ha quase cinco anos na França e tendo acompanhado de perto a repercussão, fiquei muito surpreendido com tudo o que foi dito nos meios de comunicação brasileiros em geral.

Nenhuma das analises refletiram em absoluto todas as facetas do evento. Enquanto que o “quando”, o “onde” e o “como” eram óbvios e impassíveis de erros, muitos derraparam na tentativa de explicar os “quem” e outros patinaram nos “porquês”. No final, a impressão que temos é que não se entendeu coisa alguma e no afã de ter de se posicionar, misturou-se alhos com bugalhos e o resultado de fait é um qui pro quo imenso.


Valha-me Deus, Maomé e os profetas em querer ser o dono da verdade, ou o Guardião da Divina sabedoria, entretanto me sinto no direito, senão no dever de escrever eu mesmo algumas linhas na tentativa de elucidar este imbróglio transatlântico; dito isso, entremos em pormenores.

Qui l'accusé Charlie Hebdo se présente au tribunal!

Quem é Charlie? E o que fez de grave para merecer uma tão severa punição? Como eu disse a um grande amigo meu: “Charlie Hebdo é punk”! Charlie Hebdo é o jornal que não poderia existir em um Brasil gourmet. Charlie Hebdo a criança que desenha um pênis na lousa enquanto a professora não esta, Charlie Hebdo é o cara que grita: “toca Raul” no show do Joao Gilberto, Charlie Hebdo é a mosca na sopa, Charlie Hebdo é aquele que desagrada Gregos e Troianos, Charlie Hebdo é o cara que vai com a camisa da Gaviões no desfile da Mancha-Verde e vice-versa, Charlie Hebdo é aquela que vai de minissaia em enterro, Charlie Hebdo é aquele que prefere ver o filme do Pelé, Charlie Hebdo é o jornal que ousou fazer uma caricatura do profeta Maomé, quando esta é proibida segundo a lei islâmica, e pagou por isso. E se você acha que todos os precedentes estão errados em suas posições e merecem a punição que vier, desculpe o meu francês mas você é jihadista!

Extremos extremistas anti-extremismo. Esta seria a definição ideal para as pessoas que trabalhavam, e trabalham ainda em Charlie Hebdo. Criticar, criticar e criticar toda e qualquer forma de radicalismo era o modus operandi deste semanário que, até segundos antes do primeiro coup-de-feu, era um dos menos lidos e mais odiados jornais franceses. Sim, Charlie Hebdo nunca foi e nunca sera “popular”, e por quê? Porque ler Charlie Hebdo da nó no estomago, não é para os fracos. Não é a Folha Teen ou Casa e Decoração. Charlie Hedbo choca para abrir os olhos na base da porrada. Charlie Hebdo acusa. Todavia, nem sempre queremos ouvir que estamos errados, ou que as nossas convicções são apenas isso: convicções. Baseadas em crenças pessoais e relegadas ao grupo de pessoas que dividem essas mesmas crenças. Para Charlie Hebdo não existem formas universais, imutáveis e intocáveis. Somente existe o direito de se expressar livremente, seja a favor ou contra, e mesmo a favor ou contra o próprio Charlie Hedbo. Faça o que tu queres pois é tudo da lei.
O indivíduo deve(ria) ser autocritico o suficiente para entender que uma caricatura é apenas um conjunto de traços em uma folha branca, visando a atingir um determinado grupo de indivíduos que, não sendo eles mesmos autocríticos, julgam-se acima do Bem e do Mal e responsáveis pelo policiamento da Fé, da Moral e dos Bons costumes.

Categoricamente, Charlie Hebdo não é contra o muçulmano, mas contra a religiosidade cega. Nisso, muitas analises no Brasil ou erraram, ou não souberam explicar. De toda maneira esta ai, quem quiser concorde, quem quiser não concorde. E je vous en merde !

Continua...