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Samora Moisés Machel |
Biografias
– Grandes líderes da libertação Africana
Personagem:
Samora Machel – Moçambique
Grande
líder da revolução armada e primeiro presidente de Mocambique
independente, Samora Moisés Machel foi um homem tenaz e rigoroso que
portanto nunca se afastou do povo que liderava.
Nascido
em 29 de Setembro de 1933 em
Xilembene, Mocambique. Machel
vem de uma família de agricultores relativamente abastados. Seu pai,
Mandande Moisés Machel era
líder local e descendente de antigos chefes tribais. Pequeno, Samora
Machel fez seus estudos em um colégio
religioso como parte do
programa português de educação dos nativos. Aos dezoito anos,
parte para a então Lourenço
Marques onde queria prosseguir sua educação. Escolhe a profissão
de enfermeiro, uma das únicas que permitiam a um jovem negro de
evoluir. Forma-se enfermeiro
em 1954 e no ano seguinte já encontra-se alocado como Ajudante de
Enfermeiro Auxiliar. Na década de 60 começa a envolver-se com
política participando de uma greve para aumento de salários.
Encontra-se também envolvido
em reuniões
onde a situação
do homem negro
é debatida. Após
a visita em 1961 de Eduardo Mondlane à Moçambique, a PIDE (Polícia
Internacional de Defesa do Estado, órgão português de repressão)
começa a fechar o cerco aos grupos potênciamente
perigosos. Machel escapa das garras da PIDE durante o ano de 62, mas
em março de 63 é avisado que não tardaría a cair nas mãos do
Estado. Neste momento, Samora Machel decide seguir àquilo que vinha
fomentando todos esses anos: a luta pela liberdade. Despede-se da
família e parte em uma longa viagem
que o leva até Dar es Salaam, capital da Tanzânia
e sede da recém criada FRELIMO, a Frente de Liberação de
Moçambique. Pouco depois, pede para Mondlane, então presidente da
FRELIMO, para ser enviado aos campos de treinamento do futuro
exército de libertação na
Argélia. Este pedido é prova contundente de que o Enfermeiro Machel
galgava os passos que o levariam a Chefe da Nação. Uma vez em
campo, Machel é escolhido como chefe de seu grupo de recrutas.
Eclóde a guerra argelina-marroquina e a base de treinamento é
realocada em Kongwa, Tanzânia.
Neste local, Samora Machel é nomeado Chefe de Treinamentos e tinha
como principal vocação a instrução política.
É em Kongwa que a personalidade e determinações
férreas de Machel começam a ser de grande utilidade. Ele prega o
rigor e a disciplina. Ao ponto de, as vezes, ser
acusado de intolerância.
Entretanto, tinha consciência de que formava o primeiro grupo do
exército que libertaria o
povo moçambicano, e que seriam eles quem
enfrentariam a dura missão de serem os primeiros em combate. Isto
colocou Machel em uma dinâmica
de racionalizar os processos de treinamento e endurecer os homens que
lhe eram enviados. Durante todo esse período, nutriu-se dos
manifestos de Mao Tsé Tung e estudou as revoluções
argelina, cubana e chinesa. Todo este conteúdo
era repassado a tropa com grande eloquência.
Em 1965 é inaugurado o famoso campo de Nachingwea, onde seria criado
o homem novo. O seu trabalho como instrutor vai até 1967, onde
entraria em combate real pela primeira vez. Fica encarregado de abrir
uma nova frente em Niassa Oriental, norte do país. Sai desta
experiência com a fama de
excêlente
chefe militar. A luta armada avança pouco a pouco em sua marcha a
partir do Norte. Porém, no final de 1969, recebe
duro golpe: o presidente Eduardo Mondlane é assassinado através de
uma carta bomba que lhe fora enviada. As suspeitas recaem sobre
grupos pró-colonialistas
infiltrados no seio da FRELIMO. Segue-se momento de desordem – sem
a presidência de Mondlane
disputas ideológicas
e étnicas começam a aflorir
e a Frente vê-se em disputa
interna pelo poder. Machel encontra-se longe de tudo, liderando
tropas no interior do país.
Machel
nunca pode fugir a seu destino. E não pode
se dizer que ele tentou. Tinha sempre em mente que trabalho duro,
dedicação e paixão
libertariam o seu povo. Foi com estes atributos que lutou arduamente
contra um inimigo muito mais preparado do que
ele. O Exército Português
contava com toda a modernidade e inteligência
de um exército grande
europeu. Para enfrentá-lo,
Samora Machel contou com sua astúcia
e com a ajuda do povo
moçambicano. Não era raro ver a longa linha de locais que
transportavam equipamentos e suprimentos aos combatentes. Através
distâncias que se mediam em
quilômetros. Tudo isto era
estreitamente ligado ao carisma que o povo tinha pela figura Machel.
É seguro dizer que nada disso teria ocorrido, se um líder
menos preparado estivesse em seu lugar. Como se não houvesse
trabalho o suficiente no fronte, em 1970 Samora Machel é chamado
para ocupar o cargo máximo
do movimento; em maio é eleito presidente da FRELIMO. A partir deste
momento, começa o processo de tranformação do Chefe Militar em
Chefe de Estado. Machel afasta-se da linha de frente e começa a
trabalhar na construção política
do novo estado a vir. Um trabalho que dura quatro anos e desemboca na
primeira tentativa de negociações
de paz. Na mesa de diálogo,
longe de encontrar um homem do mato e guerrilheiro inculto, os
portugueses se deparam com alguém vivo e inteligente.
E sobretudo, com um homem que sabia o que queria. Muitos foram os
apelos de abandono as armas e retorno ao status quo anterior. Machel
fez ouvidos duros a todos estes. Era a Indepêndencia
ou nada. Dobrados pela vontade de Machel, da FRELIMO e evidentemente
do Povo Moçambicano, os
colonizadores capitulam. Os Acordos de Lusaka (Zâmbia)
são assinados e em 25 de Junho de 1975, Moçambique se torna
independente de Portugal e encontra na figura de Samora Machel o seu
primeiro presidente.
Moçambique
era um país
em ruinas à época da Indepêndencia.
A guerra havia desgastado e muito o povo e o território.
Todavia, o que mais faltava para a jovem Nação não eram braços e
sim cérebros. Durante o período
colônial, pouco foi feito
para a instrução do povo
moçambicano. A maioria dos antigos cadres,
administradores
e funcionários
portugueses
haviam fugido. Era raro encontrar-se
pessoal capaz de assumir e gerir o Estado. Consciente
disso, Samora Machel parte em viagem ao países aliados. Isto o leva
a URSS, a Cuba e a China, onde pede ajuda material e intelectual para
conduzir o país.
Muitos são os enviados à reconstrução. Além da ajuda exterior,
Machel faz apelo à seu próprio povo. Em resposta, jovens estudantes
moçambicanos se espalham pelo país,
numa geração que ficou entitulada como a de “8 de Março”. A
palavra-chave que guia a todos é Educação. Do Rovuma ao Maputo
(respectivamente os dois rios que marcam as fronteiras de Moçambique
no norte e no sul) multirões
são organizados para alfebetizar a população, levar saúde
e reconstruir as infra-estruturas. Tudo isso dentro de uma dinâmica
de coude-à-coude. Tudo
era feito pelo povo em benefício
do povo. Esta política
era um reflexo
direto das convicções
do seu presidente. Machel acreditava que somente o povo moçambicano
poderia erguer o povo moçambicano. A influência
exterior não passava de um suporte técnico. O grosso deveria ser
feito por
eles próprios e sua elite intelectual. Assim, Samora Machel viajou o
país,
incentivando, fiscalizando, ensinando. Não
era raro
vê-lo
longe dos grandes centros, embrenhado no mato discursando e sobretudo
ouvindo. Ouvindo opniões
e queixas. Outro ponto remarcável
deste momento de glória
eram as eleições.
A população era ouvida a cada tomada de decisão, e sempre na base
do braço erguido. Foram anos gloriosos de rápida
ascenção. Moçambique ao fim da década de 70 possuía
níveis
superiores aos dos anos coloniais. O período
também é marcado por
algumas
anedotas. Machel sempre foi um workaholic.
Levantava-se
cedo e dirigia-se à sede do governo no Palácio
da Ponta Vermelha e de lá
somente saia bem
tarde.
Como era duro consigo, exigia de sua equipe o mesmo nível
de comprometimento. Por tanto, fazia “visitas” às fábricas
na entrada para o serviço, e repreendia a todos que chegavam
atrasados. Não somente os funcionários
de baixo escalão estavam na mira do Presidente. As
“visitas” estendiam-se
à ministros e diretores sempre em horas pouco convêncionais
e de surpresa. Claro que devido a uma natureza acomodada de certas
figuras, pegava-os em conversas irrelevantes, encontros amorosos e
até em sonecas! Imagine a cara do Presidente, tentando contruir uma
Nação, ao deparar-se com estas cenas? O método preferido de
presentear a estes em falta, era de enviá-los
aos campos de reeducação. Que
nada mais
eram
lavouras do Estado, onde
trabalhava-se
forçado.
O período
de graça dura de 1975 à 1980. No início
da década, Moçambique vê-se assolado por uma praga que consumiu
milhões
de vidas e todo o trabalho de reconstrução
empreendido. Esta praga chama-se guerra civil.
No
final dos anos 70 a Rodésia (atual Zimbábwe)
vê-se
envolta em sua própria guerra pela independência.
Pressionado pela comunidade internacional, traduzida na ONU,
Moçambique decide aplicar uma série de sanções
ao regime de Ian Smith. Uma destas sanções
trata-se
do
bloqueio das
fronteiras.
Ora, isso mostra-se um revés na economia
do país.
A Rodésia era um pais sem acesso ao mar e
pagava caro a viagem
até o
porto de Maputo. O
único lugar de escoamento de sua produção.
A ligação
entre um e outro era feita através da linha férrea. Com o bloqueio
das
fronteiras,
o dinheiro de utilização
da linha e do porto para de chegar aos cofres públicos.
Isto causa um desequilíbrio
no orçamento moçambicano e uma desaceleração
da economia.
Porém, o
efeito mais nefasto desta sanção
será
o apoio do regime de Ian Smith à criação
de um exército contra-revolucionário
em Moçambique: a RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique).
Formado por dissidentes da FRELIMO e insatisfeitos com o Governo, a
RENAMO começa por fazer pequenas incursões
no território
e ataques as infra-estruturas. Como resposta, o governo moçambicano
da apoio as forças revolucionárias
zimbabweanas e seu líder
Robert Mugabe. Temendo que o apoio moçambicano à Mugabe resulte em
uma insurreição
em seu próprio território, um terceiro e poderoso ator alinha-se ao
jogo, trata-se do regime de apartheid da África
do Sul. Este investe massivamente em material humano, bélico, em
subsidios
ou apoio
logístico
diretamente a RENAMO. Criando assim uma zona de desestabilização.
O que antes
eram
pequenas incursões,
torna-se uma operação
em larga
escala, que logo corta o território
em dois e aterroriza a população. Samora Machel depara-se com o seu
país
mais uma vez em guerra e sangrando. Se o que é ruim pode piorar, em
1982/3 Moçambique passa por uma das piores secas de
sua
história,
arruinando lavouras e sacrificando toneladas de alimentos. O caos é
total e a ajuda demora a vir. Milhões
morrem. Samora Machel parte em viagem pela Europa Ocidental e EUA
para pedir socorro. Socorro que lhe é prometido em troca de uma
abertura economica e do
abandono ao
apoio a movimentos de independência.
Particularmente a ANC de Nelson Mandela. Entre a cruz e a espada,
Machel opta pelo povo e engaja-se com ambos os pedidos. Em 1984 os
Acordos de Nkomati são assinados por Samora Machel e P.W. Botha,
então presidente da África
do Sul. O acordo marca o fim do apoio moçambicano aos rebeldes e uma
virada ao
Ocidente. Logo após, a ajuda internacional começa a afluir.
Os
ultimos dois anos de vida de Machel lhe foram muito duros. O sorriso
lhe escapa vendo o povo morrer e sangrar, enquanto que a nova elite
lucra com tudo isso. Os acordos de Nkomati revelam-se infrutíferos.
O apoio a RENAMO é cada vez mais forte. Machel sente-se isolado como
governante. E de fato estava. Grande parte de sua equipe achava que
suas políticas
eram ultrapassadas e demasiadas comunistas. A vontade era de uma
abertura ainda maior ao capital estrangeiro. Jogando no contra-ataque
Samora Machel, em 1986, prepara
uma reformulação
nos quadros do partido. Iria demitir a todos e substituí-los
por jovens recém formados na URSS. A data para mudança já estava
marcada, dia 20 de outubro de 1986 às 7 horas da manhã.
Antes disso, parte
encontrar-se
com outros presidentes africanos em Kasaba Bay, Zâmbia.
No dia 19 de outubro de 1986, ao retornar do encontro, o avião
presidencial cai a apenas alguns quilômetros
de Maputo, matando quase todos os tripulantes a bordo, dentre os
mortos estava Samora Machel.
Samora
Machel dedicou a sua vida a defender os interesses de Moçambique e
da
África.
Defendia a sua
independência,
a sua
autonomia e o
seu bem
estar. Esteve sempre do lado do povo.
Ajudando a este a ser mais forte frente a opressão
colonialista.
Junto com outros líderes
pan-africanos, Machel é um dos pioneiros da África
livre e
por ela ofereceu a sua vida.